domingo, 8 de abril de 2012

Escolas melhoram diagnóstico de crianças superdotadas


Cresce número de alunos identificados com altas habilidades

SÃO PAULO - Aos 9 anos de idade, Bernardo Dias já está na oitava escola. Sua mãe, Ana Paula Amaral do Carmo, conta que muitas delas deram desculpas para justificar a necessidade de troca. Para ela, no entanto, o problema é que não sabiam como lidar com o filho, que, após passar por várias instituições, foi diagnosticado como superdotado.

— Teve escola que me pediu para tirar o Bernardo de lá com a desculpa que ele comia muito lanche. Ele chegou a ser maltratado por uma professora, que não admitia que ele terminasse as tarefas rapidamente e pedia aos coleguinhas para não falar com ele em sala — contou Ana.
Por falta de preparo dos professores para identificar alunos como Bernardo, casos como o dele ainda são comuns em escolas públicas e particulares no Brasil. A boa notícia é que, ano a ano, tem aumentado o número de alunos diagnosticados como superdotados, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), órgão do Ministério da Educação (MEC).

Em 2010, eram 8.851 estudantes superdotados matriculados em escolas públicas e privadas; e no ano anterior, 5.478, ou seja, um aumento de quase 62%. Em 2000, o total era apenas 682.
Segundo a diretora de políticas de educação especial da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do MEC, Martinha Dutra, o aumento ocorreu porque os professores estão mais aptos a identificar os superdotados.

Em 2005, o ministério criou os Núcleos de Atividade de Altas Habilidades/Superdotação (Naahs) para ajudar na formação de professores e, com isso, saibam reconhecer com mais facilidade os superdotados e também estimular a habilidade e criatividade deles. O MEC criou um núcleo em cada unidade da federação, mas a gestão é feita pelos estados.

— O núcleo treina professores para identificação e desenvolvimento de atividades para os alunos. Mais professores podem estar sabendo como identificar os alunos superdotados — diz Martinha Dutra.

Para o MEC, alunos superdotados ou com altas habilidades são aqueles que “demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes”. Além disso, esses estudantes têm “grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e na realização de tarefas em áreas de seu interesse”.
Porém, entidades especializadas em superdotados apontam dificuldades. Para a presidente da Associação Paulista para Altas Habilidades / Superdotação (Apahsd), Ada Toscanini, o problema da formação de especialistas ainda persiste:

— Os professores, de forma geral, ainda não têm formação adequada para identificar os superdotados nem para atendê-los. O superdotado ainda é discriminado, visto como doente, pessoa com problemas nervosos ou hiperativo.

A presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação (Conbrasd) — organização não-governamental que reúne profissionais da área e pais —, Cristina Delou, também acredita que ainda há muitos profissionais despreparados.

— Os cursos de formação de professores de graduação não têm conteúdo específico para identificação de superdotados. E quase não existem programas de mestrado voltados para a educação de superdotados — observa Cristina, que é professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Segundo ela, os Núcleos de Atividade de Altas Habilidades/Superdotação (Naahs) só podem formar profissionais que trabalham na rede estadual, deixando de fora os de escolas municipais e privadas. Além disso, destaca, os núcleos, cujas ações são geridas por cada estado, não funcionam a contento, pois não têm prestado atendimento aos alunos e às famílias deles.

Estímulo em laboratórios de universidades

O MEC reconhece que apenas alguns núcleos fazem atendimento direto aos alunos e pais de alunos. Mas o ministério afirma que eles têm monitorado as ações de estímulo à aprendizagem dos estudantes nas “salas de recurso” das escolas públicas, onde os superdotados, assim como as pessoas com deficiência, têm que receber suplementação escolar. Nelas, os alunos devem encontrar materiais e profissionais capacitados para atendê-los no contraturno.

Segundo o Conbrasd, como os superdotados podem ter nível de conhecimento superior ao de professores da escola, o ideal é que eles frequentem laboratórios de universidades para que se sintam estimulados.

Foi o que aconteceu com Kei Sawada, que aos 4 anos de idade já havia se alfabetizado sozinho em português e inglês.

— A escola ficou muito chata para ele. Conseguimos que frequentasse o laboratório de altas energias da UFF. Depois de uns meses, recomendaram que ele fizesse logo o vestibular e ele foi acelerado de série. Ele estava com 16 anos quando passou em primeiro lugar no vestibular de Física na Universidade Federal do Rio — conta a mãe de Kei, Anunciata Sawada.
Mas a aceleração escolar — quando a criança “pula” uma ou mais séries — não é um processo simples. Em São Paulo, por exemplo, mães estão procurando a Justiça para conseguir limitares que permitam esse avanço de série. A Secretaria de Educação entende que o procedimento é irregular, pois ainda não foi regulamentado pelo Conselho Estadual de Educação. Mas, em nota, o conselho afirmou que não precisa regulamentar a questão, pois a Lei de Diretrizes e Bases da Educação já prevê a possibilidade de aceleração.

André da Rocha Domingues, de 7 anos, já tinha sido acelerado quando se viu obrigado a retroceder de série, por determinação da secretaria.

— Em janeiro, fomos informados que ele teria que voltar para o 2 ano do fundamental. E ele voltou. Foi difícil, ele não queria ter que estudar tudo de novo. Meses depois, consegui uma liminar na Justiça, e ele foi transferido para o 3 ano — relata a mãe de André, Cátia Domingues.

O GLOBO

3 comentários:

josie disse...

Olá! Tenho lido muito ultimamente a cerca deste assunto, por 2 motivos: primeiro que trabalho com inclusão, sou instrutora e intérprete de Libras; segundo, tenho tentado descobrir se tenho altas habilidades/superdotação. A questão é que, depois de adulto, é constrangedor buscar informações diretamente de outras pessoas que ainda vêem o fato com discriminação. Sou autodidata, comecei a ler por volta dos dois anos de idade(a primeira palavra que li foi "Mesbla"), tive excelente desempenho acadêmico durante toda a minha vida; mas comigo aconteceu o mesmo que com o garoto na história relatada acima, o que me chamou a atenção: aos 7 anos deveria iniciar a terceira série, mas fui rebaixada pois os professores e a direção acreditavam que estudar muito me deixaria louca. Tive que refazer a segunda série e até hoje isso me entristece. Fico feliz de saber que hoje em dia há mais recursos para ajudar crianças especiais. Mas se você tiver algum teste que possa me ajudar, agradeceria muito. Parabéns pelo blog.

josie disse...

Olá! Tenho lido muito ultimamente acerca deste assunto, por 2 motivos: primeiro que trabalho com inclusão, sou instrutora e intérprete de Libras; segundo, tenho tentado descobrir se tenho altas habilidades/superdotação. A questão é que, depois de adulto, é constrangedor buscar informações diretamente de outras pessoas que ainda vêem o fato com discriminação. Sou autodidata, comecei a ler por volta dos dois anos de idade(a primeira palavra que li foi "Mesbla"), tive excelente desempenho acadêmico durante toda a minha vida; mas comigo aconteceu o mesmo que com o garoto na história relatada acima, o que me chamou a atenção: aos 7 anos deveria iniciar a terceira série, mas fui rebaixada pois os professores e a direção acreditavam que estudar muito me deixaria louca. Tive que refazer a segunda série e até hoje isso me entristece. Fico feliz de saber que hoje em dia há mais recursos para ajudar crianças especiais. Mas se você tiver algum teste que possa me ajudar, agradeceria muito. Parabéns pelo blog.

Rachel Costa Bezerra disse...

Josie, pelo que você falou, deve ser superdotada sim!