domingo, 30 de janeiro de 2011

Entrevista sobre Cidades Criativas, com Ana Carla Fonseca Reis

Coluna da Mona Dorf ( IG )

Ana Carla Fonseca Reis é economista, administradora, doutoranda em Urbanismo e uma das maiores autoridades em economia da cultura, economia criativa e cidades criativas. Viaja pelo mundo, fazendo conferências sobre o tema que desafia a nossa civilização. Seu livro Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável foi premiado com o Jabuti 2007.


O novo livro dela Cidades Criativas – Perspectivas é fruto de uma experiência global, está em inglês e disponível para download.

Entrevista com Ana Carla Fonseca Reis :

1) O QUE É ECONOMIA CRIATIVA?

É a economia que se move ao redor de ativos intangíveis/simbólicos. De forma mais específica, costuma-se entender que compreende um núcleo cultural (artes, artesanato, folclore), indústrias culturais, as chamadas “indústrias criativas” (que bebem cultura para devolver funcionalidade, como moda, design, arquitetura, propaganda) e o impacto dessa criatividade no fortalecimento de setores tradicionais da economia ( – e.g. moda e cadeia do confecção/têxtil, arquitetura na de construção civil e design em várias).

2) QUEM SÃO OS AGENTES DESSA ECONOMIA?

Uma estratégia de economia criativa envolve todos os agentes, de forma complementar, entendendo que cada um tem responsabilidades definidas. O que se percebe é que a parceria público-privada (de fato, não na demagogia) é fundamental, assim como o envolvimento íntimo da sociedade civil. A economia criativa é por excelência transversal e exige uma articulação entre diferentes políticas – e.g. educacional, cultural, de desenvolvimento, turismo e tecnologia.

3) DÊ ALGUNS EXEMPLOS DE CIDADES QUE SOUBERAM SE REINVENTAR, ATRAVÉS DA ECONOMIA CRIATIVA, NO EXTERIOR.

Londres, a partir d 1997, sob o governo Tony Blair; Barcelona, a partir das Olimpíadas de 1992; Bogotá, desde o primeiro governo de Antanas Mockus, em 1994; Bilbao, desde fins da década de 1980.

4) QUAL A CHAVE DO REVOCACIONAMENTO DELAS?

Um conjunto de fatores. a) Nenhuma dessas cidades deu início a uma reinvenção com base em um projeto, mas sim em um programa estratégico de longo prazo. Mesmo Bilbao, cuja transformação é vista como desencadeada pelo Guggenheim, baseou-se em um conjunto de oito estratégias – das quais o museu era apenas uma e justamente a cara visível do programa. b) A governança (item 2) também é fundamental. c) A consideração de todas as conexões possíveis deve ser enfatizada – entre local e global, entre a cidade e suas vizinhas, entre diversidades, entre áreas da cidade, entre passado e futuro. d) A cultura tem papel fundamental – mas não a cultura da cópia, baseada essencialmente na contratação de um starchitect e sim a cultura diferenciadora, não passível de cópia, que além de aportar como conjunto de setores econômicos, favorece a formação de um ambiente criativo. e) Educação e capacitação. f) Investimento em tecnologias, especialmente as TICs.

5) E CIDADES BRASILEIRAS? POR QUE ACHAR QUE ECONOMIA CRIATIVA É ARTESANATO E FOLCLORE?

No Brasil temos enorme criatividade em nossas cidades, mas as iniciativas não se integram em uma plataforma, em uma estratégia de transformação (ao menos não ainda). Algumas cidades têm olhado para essa questão mais detidamente, como é o caso do Rio de Janeiro, mas a vasta maioria das outras ainda está alheia a essas discussões. Temos algumas cidades de porte médio (100-500 mil habitantes), como é o caso de Santa Maria (RS), que estão buscando trilhar esse caminho. E algumas cidades de pequeno porte (até 100 mil habitantes), como Guaramiranga (CE), Paraty (RJ), Natividade (TO), embora não utilizem esse conceito. A complexidade das nossas metrópoles faz do trabalho desse tema um grande desafio – e uma enorme oportunidade. Quanto ao artesanato e ao folclore, talvez seja a resposta a termos ficado durante décadas considerando artesanato e folclore desprovidos de seu potencial econômico. E, embora sejam dois recursos criativos importantes e parte integrante da economia criativa, não são claramente o todo.

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