sábado, 5 de novembro de 2011

'Supercampeã olímpica', jovem de SP quer estudar astrofísica em Harvard

Estudante de 17 anos conquistou 30 medalhas em olimpíadas estudantis. Filha de vendedora e cobrador de ônibus vai prestar USP e Unicamp.

Vanessa Fajardo Do G1, em São Paulo


Tábata Amaral, de 17 anos, participa de olimpíadas estudantis desde os 12 (Foto: Vanessa Fajardo/G1)

Mais do que 30 medalhas conquistadas em olimpíadas de física, química, informática, matemática, astronomia, robótica e linguística no mundo todo, a estudante Tábata Cláudia Amaral de Pontes, de 17 anos, moradora de São Paulo, guarda lembranças, contatos, culturas e histórias dos amigos estrangeiros que fez por onde passou.

Bolsista do Etapa,Tábata que é filha de uma vendedora de flores e um cobrador de ônibus conclui em 2011 o terceiro ano do ensino médio e encerra a vida de "atleta." O próximo desafio é ingressar na universidade. A jovem quer estudar astrofísica e ciências sociais na Harvard University, nos EUA, ou em outra instituição de ensino superior americana. Está participando de oito processos seletivos para conseguir bolsa de estudos.
Com ciência é possível descobrir o mundo. Eu me sinto descobrindo o mundo e fico encantada com o céu"
Tábata Amaral, estudante
Também vai prestar física na Fuvest, medicina na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e engenharia de aeronaútica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
As medalhas de Tábata estão guardadas na casa dos pais na Vila Missionário, Zona Sul de São Paulo, onde também estão os dois baús repletos de presentes que trocou com os participantes das olimpíadas na China, Turquia e Polônia, e em várias cidades brasileiras. Ela também coleciona moedas e notas em papel.
A primeira medalha foi uma de prata que veio aos 12 anos, em 2005, quando ela fez sua estreia nos torneios estudantis com a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). No ano seguinte, ganhou o ouro e bolsa de estudos da escola Etapa, onde vai concluir o terceiro ano do ensino médio neste ano. De lá para cá, foram dezenas de competições e títulos.

Dentre a coleção de prêmios, um dos mais especiais foi a medalha de bronze conquistada em julho deste ano no mundial de química na Turquia. Representantes de 70 países estavam na disputa. Outra medalha marcante foi o ouro da Olimpíada Ibero-Americana de Astronomia que foi realizada no Rio de Janeiro e Minas Gerais há duas semanas.

"Gosto muito de participar das 'iberos', as pessoas são muito diferentes e muito incríveis. Ficamos amigos e a rivalidade não é tão forte como nos torneios mundiais", diz. Para Tábata, um dos piores resultados foi no mundial de astronomia na Polônia, quando conquistou uma menção honrosa, equivalente ao quarto lugar. A concorrência nesta competição foi acirrada, segundo ela, porque Irã e China, países favoritos, mandaram duas equipes cada um.


"Tenho oportunidade que quase ninguém tem e quando não dá certo fico chateada. Os meninos riem de tudo e aprendo muito com eles", diz Tábata, chorona assumida.

Tábata guarda presentes do mundo inteiro em dois baús e coleciona moedas (Foto: Vanessa Fajardo/G1)

Futuro

A vontade de estudar fora do país tem explicação. Além de conseguir a fluência no inglês e desfrutar da boa qualidade e infraestrutura de ensino, Tábata diz que em Harvard, por exemplo, poderá conciliar os estudos dos cursos de astrofísica e ciências sociais. Ela quer ser astrofísica para trabalhar com pesquisas do universo - sua grande paixão - e socióloga para ajudar pessoas, tocar projetos sociais e retribuir as oportunidades que teve na vida. Para a estudante, a formação em ciências humanas é fundamental.

Quero estudar em Harvard e voltar com riqueza cultural para mudar a educação do Brasil. Sei que vai ser muito difícil"

Tábata Amaral, estudante

"Com ciência é possível descobrir o mundo. Eu me sinto descobrindo o mundo e fico encantada com o céu. Como alguém pode ver o céu e não acreditar em Deus? É o que lugar onde ele mais se mostra, foi a coisa mais incrível que criou", diz Tábata, que é católica e participa ativamente das atividades da igreja.

Para Tábata, estudar em Harvard vai ser como participar de uma olimpíada por quatro anos consecutivos. "Se eu for aceita, vou estar numa sala onde a maioria dos alunos é estrangeiro. Quero estudar e voltar com riqueza cultural para mudar a educação do Brasil. Sei que vai ser muito difícil, não tenho boas ideias, mas posso ajudar nas pesquisas."

Exemplo para a mãe

Há pouco mais de um ano, Tábata quase teve de desistir da bolsa de estudos do Etapa. Os pais não tinham como arcar com as despesas de transporte e alimentação da filha. Desde então, o Etapa passou a custear um quarto em um hotel próximo à escola na Avenida Vergueiro, em São Paulo, e pagar o almoço da estudante. "Sou muito sortuda", diz.

Maria Renilda e Tábata exibem a coleção de

medalhas (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)

Tábata costuma voltar para casa da mãe aos domingos, no período da tarde depois de dar aulas de matemática e astronomia para crianças das 5ª e 6ª séries de um projeto chamado Vontade Olímpica de Aprender (VOA) que ela criou.

O VOA reúne cerca de 100 alunos da rede pública de São Paulo que querem participar de olimpíadas. As aulas ocorrem sempre aos domingos de manhã em uma escola pública na Vila Mariana. Tábata orgulha-se em contar que alguns de seus alunos já ganharam medalhas e bolsas de estudo. Além dela, cerca de nove pessoas participam do projeto dando aulas de outras disciplinas.

"Eles são meu xodó. É muito lindo ver uma criança de 5ª série que ganha medalha e estuda porque que quer. Eu tenho todo apoio do meu colégio, mas eles não", afirma.

Até a mãe de Tábata, Maria Renilda Amaral Pires, de 40 anos, se inspirou na dedicação da filha. Maria voltou a estudar e neste ano e vai concluir o ensino médio junto com a garota. O maior desafio de ambas agora é vencer a saudade, caso Tábata realize mais um sonho: o de ser estudante da Harvard.

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