sexta-feira, 22 de julho de 2011

Descobridor de talentos

O executivo Luis Rodrigues teve uma carreira discreta no voleibol. Como diretor da Nike, ele se transformou no principal caçador de craques do Brasil Por Rosenildo Gomes Ferreira

Por Rosenildo Gomes Ferreira, IstoE Dinheiro

É difícil prever qual será o resultado obtido pela Seleção Brasileira de Futebol na Copa América, que acontece na Argentina. Mas a possibilidade de um jogador patrocinado pela americana Nike balançar as redes é muito grande. Afinal, nada menos que oito dos 11 titulares do time comandado por Mano Menezes são garotos-propaganda da fabricante de material esportivo baseada em Beaverton, no Estado americano do Oregon. No time atual, os holofotes estão direcionados para a dupla Neymar, 19 anos, e Paulo Henrique Ganso, 22 anos. Eles são as principais estrelas do portfólio de atletas patrocinados pela Nike do Brasil, composto por 200 esportistas. A maior parte deles foi incluída nesse grupo quando ainda não passavam de promessas.

O responsável por garimpar os novos talentos cada vez mais cedo é Luis Alexandre Pontes Rodrigues, diretor de marketing esportivo da Nike. Como jogador de vôlei, seu maior feito foi a conquista da medalha de bronze no Pan-Americano de Indianápolis, em 1987. Mas é na posição de executivo que ele vem ocupando o lugar mais alto do pódio. À frente de uma equipe de dez funcionários, Rodrigues corre o Brasil em busca do que classifica como o “extracraque” – categoria na qual inclui, além dos citados acima, Ronaldo e Alexandre Pato. “Para entrar no time da Nike não basta ser bom de bola”, diz Rodrigues.

Aposta de risco: "Quase todo dia alguém me liga dizendo que achou o novo Pelé", diz Rodrigues

“Analisamos o aspecto técnico, mas também os vínculos familiares e a capacidade de atuar em equipe.” O trabalho executado pela divisão comandada por Rodrigues tem uma dinâmica muito particular. Exige faro apurado e uma rede de contatos em todos os cantos do País. É necessário, ainda, ter jogo de cintura para escapar das roubadas. “Quase todo dia alguém me liga dizendo que achou o novo Pelé”, afirma. Exageros à parte, é certo que seu telefone no escritório da Nike situado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, é de longe o mais acionado na empresa.

As sugestões, passadas por olheiros, são checadas com amigos e parceiros. Em seguida, Rodrigues ou um integrante de sua equipe vai a campo para entrevistar o atleta. A decisão final é tomada pelo sistema de colegiado, como forma de distribuir a responsabilidade e minimizar as falhas. “No ano passado, a cada quatro dias embarquei em um avião para acompanhar competições e observar atletas”, diz Rodrigues. Até integrar a galeria dos atletas que embolsam cifras milionárias, eles têm de percorrer um longo caminho. O primeiro contrato assinado com a Nike não prevê remuneração. O pagamento é feito por meio do fornecimento de material esportivo, além de roupas e calçados da linha casual da grife.



Em um segundo momento, o salário pode variar, de acordo com o mercado, entre R$ 20 mil e R$ 30 mil por ano. Apenas quando o jogador se transforma em uma estrela é que as cifras se aproximam da casa do
milhão de reais. Foi assim com Neymar, que ingressou no plantel da Nike em 2007. Somente dois anos depois, o moicano da Vila Belmiro começou a receber em espécie. Hoje, o craque do Santos e da Seleção Brasileira embolsa cerca de R$ 1 milhão por ano. Em todos os casos, o valor é sempre atrelado ao desempenho.

Política considerada acertada pelo mercado. “Esse tipo de relacionamento ajuda na profissionalização do setor no Brasil”, diz o consultor José Carlos Brunoro, especialista em marketing esportivo. O departamento que hoje é comandado por Rodrigues surgiu em 1994. Naquele ano, a empresa enxergou a chance de marcar um gol de placa patrocinando a Seleção Brasileira.

Afinal, o time canarinho sempre chega como um dos favoritos na Copa do Mundo, que, naquele ano, aconteceria na terra da Nike. Daí para a frente foi correr para a galera. Rodrigues não revela, mas sabe-se que a subsidiária contribui com uma parcela significativa das receitas da divisão que atingiram US$ 2 bilhões em 2010, um pouco mais de 10% das vendas globais, de US$ 19 bilhões.

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